quinta-feira, 8 de julho de 2010


SAL DENTRO DO SALEIRO
Os cristãos de hoje amam o rei, mas não amam o reino

Destacarei abaixo algumas frases que sustentam a alienação do crente do mundo.
Não somos deste mundo (não somos alienígenas, a terra Deus deu aos homens Sl. 115.16)
O mundo jaz no maligno (I Jo. 5.19 – mundo subtende-se o mundo sistêmico, os assuntos humanos que se opõe a Deus, não é uma referencia ao mundo natural) a palavra mundo na Bíblia tem pelo ou menos 03 possibilidades. Mundo físico (Sl. 24.1) mundo como humanidade (Jo. 3.16) e mundo como sistema em oposição ao reino de Deus (I Jo. 2.15; 5.19)
“Igreja” significa, tirados para fora do “mundo”, mas que mundo? (A palavra [1]Eclésia de onde origina a nossa palavra Igreja é uma palavra grega, mas que foi usada num contexto romano, ela retratava “reuniões comunitárias” as pessoas saiam de suas casas para reuniões de caráter comunitário, quase sempre em favor da comunidade, OBSERVE NÃO SAIAM DA CIDADE OU DO PLANETA, MAS DE SUAS CASAS. Logo essa palavra quando aplicada a Igreja no sentido literal não significa separação do mundo, mas quando aplicado no sentido simbólico ou figurado ela expressa o que Paulo diz “que fomos transportados do reino das trevas para o reino de Deus. Mudamos de reino, mas não mudamos de habitat por isso há conflito. [2] “A espiritualidade de uma comunidade cristã não se mede pelo que ela faz das portas da Igreja para dentro, mas pelo que ela faz das portas da Igreja para fora”, a sociedade, e não a temperatura dos nossos cultos é o termômetro espiritual da Igreja. Jesus disse que seriamos sal da terra e luz do mundo, mas estamos sendo sal dentro do saleiro e luz dentro de casa. Portanto sejamos sal fora do saleiro.
O reino de Jesus não é deste mundo (Jo. 18.36). Isto é, tinha uma origem diferente e, portanto, caráter diferente. Ainda não é, mas será (Ap.11.15 Os reinos do mundo tornaram-se de Jesus) “Jesus não venceu satanás na cruz, pra deixar a história em suas mãos” – Ariovaldo Ramos. O reino de Deus (a ultima realidade da história) começou com Cristo e irá se consumar na eternidade.
Essas máximas sintetizam a concepção antimundo da grande maioria dos Assembleianos. Nessa lógica a maior evidencia da conversão é a separação do mundo, a salvação acontece apenas na dimensão imaterial do homem (alma), portanto é pessoal, indivualista e muitas vezes egoísta.
Somos mais conhecidos pelo que deixamos de fazer, (na) sociedade do que pelo que fazemos (na) e pela sociedade. Antigamente, não sei se ainda hoje, era fácil identificar um cristão. Crente era aquele que não fumava, não bebia, não ia a festas noturnas, e não tinha relações sexuais antes do casamento. Resumindo crente é aquele que não faz isso ou aquilo. Em síntese: Somos mais conhecidos pelo que deixamos de fazer, do que pelo que fazemos (na) e pela sociedade. E a influencia do sal? Perdeu o sabor? Se perdeu, Jesus disse que não serve. Pois servir a Deus é servir as pessoas.




O pentecostalismo quase que invariavelmente é uma pratica religiosa que nunca quis mudar o mundo, mas sair dele. Essa teologia não quer resgatar o mundo, mas as pessoas do mundo. Este mundo está irremediavelmente perdido e a única relação possível é de desprezo, portanto, pretende-se literalmente sair dele. Porque então haveria a preocupação de modificá-lo? Influencia-lo? Pensam eles!
A soteriologia (concepção de salvação) de um grupo religioso determina sua visão de mundo. No caso dos Assembleianos salvação da alma, não da vida e suas circunstâncias. Gosto muito do que diz certo escritor “eu sou eu nas minhas circunstancias” se eu mudo, as minhas circunstancias vão ser afetadas de alguma maneira e se as minhas circunstancias mudam eu vou ser afetado de alguma maneira.
Parafraseando Fernandes, o assembleiano tem preconceito em ser social, ser social é ser mundano. O assembleiano não quer transformar o mundo, ele quer sair dele.
A música é imoral, isso sem exceções, a arte é apelativa, o cinema desaconselhável, a literatura não edificante, porque tudo que é produzido no mundo tem a mancha do pecado, produção do pecado para consumo de pecadores. Pra eles o mundo é símbolo do pecado e decadência, só faltam dizer que o foi o diabo que criou o mundo.
Olha o que diz um dos mais respeitados teólogos da Assembléia de Deus. [3]O mundo é o reino do pecado e das forças satânicas. O dever do cristão é afastar-se completamente dele. A intervenção nesse mundo/sociedade perdida tem que ser espiritual, através da conversão pessoal de cada homem. Os problemas sociais, como a fome, a miséria e a corrupção, são frutos do pecado individual, portanto, devem ser resolvidos através da mensagem evangélica que atinge e transforma as almas, e não com um programa político-estrutural para a sociedade, ou seja, as respostas para todos os males se encontram na Bíblia Sagrada.
Em outro momento ele diz
[4]Na verdade, nem somos deste mundo!Portanto, a participação do crente no mundo deve ser mínima. A sociedade e a cultura têm que ser evitadas devem ser encaradas como algo “mundano” e depreciativo, uma vida que é visto por Deus como reprovável e corrompida.
Nesse contexto a oração que Jesus nos ensinou “venha o teu reino” não faz sentido.
O saldo negativo dessa compreensão distorcida e mutilada do evangelho é a alienação social- quantos orfanatos, hospitais, asilos, abrigos, a assembléia de Deus tem? Alienação educacional- [5]quantas escolas, universidades e faculdades a Assembléia de Deus têm? As poucas que existem quase sempre são particulares, alienação cultural- qual a nossa participação no cinema, nas artes, na literatura- no mundo evangélico? O livro que ultrapassa 10.000 exemplares é considerado um Best-seller.

Jesus não venceu satanás na cruz, para deixar a história em suas mãos. Ele veio justamente destruir as obras do diabo (Mt.12.23; I Jo.3.8). E a Igreja como corpo de Cristo é responsável pela continuidade daquilo que Jesus iniciou (qual era o ministério de Jesus? (alimentar as multidões, integrar novamente na sociedade as prostitutas, os leprosos, cegos, pecadores). Segundo Jesus o critério que nós seremos julgamos pra saber se somos seus seguidores é se: Hospedamos os forasteiros, alimentamos os famintos, visitamos os doentes e presidiários, e vestimos o que estavam nus (Mt.25.34-40).
Muitos gostam de usar esse texto (Mt.16.18) pra dizer que a função da Igreja é defender-se do mundo, até a vinda de Cristo. As Portas do inferno não prevalecerão contra ela: No original grego a Igreja é o agente ativo e o inferno o agente passivo. Não é o inferno que ataca a igreja, mas a igreja que ataca as portas do inferno. Não precisamos nem de exegese pra descobrir o sentido do texto, um pouco de lucidez e coerência é suficiente. Afinal como o inferno iria atacar a igreja com portas? Portas são instrumentos de defesa, não de ataque. Portanto o que Jesus estava querendo nos dizer é que a igreja devia atacar as portas do inferno, e o inferno tem muitas portas- a porta do analfabetismo, da exploração sexual, violência, drogas, e mais recente a pedofilia, dentre outras.
A teologia Assembleiana está sobremaneira preocupada com o individuo em sua subjetividade, preferindo situá-lo sempre em confronto direto com o diabo- que está sempre personificado no mundo físico e social. Tudo que está fora da Igreja estar desprovido de caráter espiritual, o físico (pra que cuidar do corpo? Cuide da alma! [6]Roupas de moda, pinturas, adornos, são pura vaidade, é a religião de jezabel. e social- pra que investir no mundo? ele vai ser destruído mesmo! Aplique seu dinheiro na obra de Deus- que dentro do conceito assembleiano é o mesmo que templos, casas pastorais, e o bolso dos pastores.
Posso estar sendo ousado, perdoem minha ousadia- mas acho que essa é uma maneira sutil de dizer, pegue o dinheiro que você iria investir no mundo (isto é em pessoas) e invista na Igreja, sob a suposta obrigatoriedade do dizimo, que infelizmente se tornou o parâmetro de espiritualidade dentro da Igreja. Qual o saldo disso? Belos templos, pastores abastados e mercenários. Quem dera que esse recurso fosse investido pelo menos na comunidade dos irmãos, já que o mundo está condenado mesmo. Engraçado! Jesus veio salvar e não condenar o mundo (Jo. 3.17) estamos indo na contramão do evangelho.
Nilton Gonçalves


[1] A Palavra EKKLESIA, designava “a reunião formal de cidadãos da polis (cidade) convocados de seus lares para uma assembléia pública”. Nunca dá a idéia de sair da cidade ou eximir-se da condição de cidadão. SOBRINHO, João Falcão, p.15 A TÚNICA INCONSÚTIL, 2002
[2] PIEDADE PERVERTIDA, GOUVEA, Ricardo Quadros, p.105
[3] Cf., LIMA, E. R. Aprendendo diariamente com Cristo. P.230. Texto na íntegra!
[4] LIMA, E. R. Ética Cristã. P. 199. texto na íntegra!

[5] O Ibad- foi à primeira escola teológica “da assembléia de Deus” e já formou mais de 5.000 obreiros para a denominação. No dia em que o IBAD completou 50 anos, eu ouvi o diretor do IBAD, Jonathan Lemos, filho dos fundadores, dizer publicamente que a Assembléia de Deus nunca tinha doado sequer 10 centavos para o IBAD. Que vergonha!
[6] Moda, adornos, usos e costumes não constituem valores espirituais em si mesmos, pois não fazem parte da lei moral de Deus, devem ser concebidos apenas como valores culturais. GONDIM, Ricardo, é proibido, p.9 editora- Mundo Cristão

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